domingo, 3 de novembro de 2013

741- DICAS, IDEIAS & SERVIÇOS (DIS) - Lazer e Cultura - São Paulo

sábado/ 02 de outubro/ 2013
domingo/ 03 de novembro/ 2013
segunda/ 04 de novembro de 2013
NEWSLETTER  OUTUBRO 2013
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POR QUE GIUSEPPE VERDI?
  
                                                          " Só para ela [a música] não vale o conceito aristotélico de mimesis. É o supremo triunfo do espírito criador humano.” (*) 

          
Comemoramos em 2013, duzentos anos do nascimento de Giuseppe Verdi e também do alemão Richard Wagner. Ambos construíram obras geniais em um contexto especial da história da música, por causa de aspectos sociais e políticos daquela época. Hoje não cabe mais a polêmica entre seus nomes, existente no tempo em que viveram. Para este breve estudo, escolhi o italiano Verdi. Muitas de suas árias são conhecidas de todos nós. Por que motivo?


                                                           ÓPERA EM DOSE DUPLA 

       Ao longo do século XIX houve a formação de um público inexistente no século anterior. Daí podemos entender que tenha havido o aparecimento de empresários, de grupos de músicos na organização de concertos e outros eventos. Ao lado desse movimento social e cultural, temos também o despertar das nacionalidades com a consequente ênfase em suas histórias e tradições. Essa mudança política promove uma competitividade saudável entre as várias expressões artísticas. Além disso, o público leigo começou a observar os artistas como pessoas excepcionalmente dotadas, o que gerou o culto do gênio. 

 
         É nesse contexto privilegiado do romantismo que os dois compositores de ópera desenvolvem sua obra. Cada um à sua maneira. 

         Entre outros aspectos, Verdi desenvolveu as convenções do gênero e respeitou a estrutura da ópera compondo enredos melodramáticos e épicos, com personagens bíblicas, dos livros de história e de obras literárias (Shakespeare, Victor Hugo e Alexandre Dumas Filho).  Wagner revolucionou o gênero com personagens extraídas da mitologia medieval, nórdica e germânica, construindo um universo próprio, uma utopia estética com o conceito de obra como expressão da arte total. Diz-se que Verdi finaliza o caminho da ópera tradicional, enquanto Wagner abre espaço para uma nova maneira de se fazer música.   

         Além da riqueza das obras de ambos, em estudos biográficos não censurados, encontramos um Verdi com temperamento exigente, áspero nas discussões, intolerante em relação à realização de seus objetivos artísticos e calado embora fosse também generoso e de retidão de caráter. Wagner carregou durante sua vida um anti-wagnerianismo, porque foi acusado de anti-semitismo, de ser egoísta e outras qualidades não menos depreciativas. Mas teve uma capacidade de resistir como um gigante, arrebanhando um público a sua volta e garantindo assim seu caminho de sucesso. 

         Mas, esses dados pessoais nos interessam como meras curiosidades. São aspectos da complexidade de biografias de pessoas que produziram obra consistente e duradoura na arte. Sabemos que o termômetro do sucesso pendeu para um ou outro lado de acordo com as circunstâncias históricas. Enquanto Verdi teve sucesso em sua terra natal muito cedo, Wagner desde sempre pode ser ouvido com sucesso em toda a Europa. Tais preferências podem indicar aspectos históricos e estéticos que hoje não se sustentam mais. Ambos ganharam espaço nas comemorações internacionais de seu bicentenário de nascimento.     

           Na observação da vida de ambos, há o mistério da obra que se constrói, de um impulso que pede expressão e que encontra respaldo no mundo exterior.  Escolhemos o compositor italiano pela sonoridade de sua obra, tida como popular e ganhando por essa qualidade, muitas vezes, uma avaliação menor pela crítica mesmo em seu tempo. Pois é este apelo popular que talvez mereça o despertar de uma curiosidade. A despeito da crítica especializada.  


                               A NECESSIDADE DA ARTE: 
EXPRESSÃO E RECEPÇÃO 


         Ele nasceu em Le Roncole a10 de outubro de 1813, em uma Itália dividida. Filho de família de campesinos pobres encontrou ajuda desde a infância que lhe possibilitou algum estudo e acesso à música. Casou-se com a filha de um benfeitor, de quem teve dois filhos. Perde filhos e esposa no espaço de três anos (1838-1840). Nessa época, pensou até em deixar a música. Porém, em 1842 volta com Nabucco que tem sucesso nacional. Dessa obra, o coro Va Pensiero, que conta o lamento do povo judeu cativo na Babilônia, passa a representar quase como um hino os desejos nacionalistas do povo italiano na busca da liberdade e da unificação de sua pátria.

            Entre 1851 e 1853 escreve La Traviata, Rigoletto e Il Trovatore.  As obras seguintes trazem renovação e maestria musical.  Em 1871, a grande Aída e Otello em 1887. Aos 80 anos, escreve sua última obra Falstaff de caráter cômico. Trata-se de uma adaptação de Arrigo Boito a partir de Shakespeare em que o gênio parece ter conquistado enfim a sabedoria para falar da vida humana com graça, além de mostrar o amadurecimento de todos os seus recursos musicais. Fecho de ouro na obra que tinha convicções morais do romantismo político e humanitário do Risorgimento e a simpatia pelas vítimas e humilhados pela vida. 

         Ao longo de sua vida, compra terras e constrói em Sant´Ágata, uma casa nos moldes daquelas que havia nos campos de sua infância. Aí retira-se para uma vida calma e os amigos puderam vê-lo a partir dos seus sessenta anos trabalhando no arado, cuidando do gado e até recusando-se a escrever. Nessa casa talvez tenha realizado o desejo de ser campesino.

         Em janeiro de 1901, em uma última homenagem o cortejo que acompanha seu enterro canta a música com que o compositor conquistara o povo italiano: o coro dos judeus da ópera Nabucco. 

         O estudo de biografias nos traz muitas vezes descobertas inusitadas. No caso de Verdi, parece que não há espaço entre a imagem da obra e seus dados pessoais. Ele fez uma obra dentro do espírito romântico de seu tempo. Inspira, comove e eleva o nosso espírito. Também ofereceu  um canto especial para seu povo. Alimentou seu amor à terra e desenvolveu a vocação necessária a sua alma. Algo que só pode ocorrer espontaneamente, sem planejamento. Uma relação entre necessidade de expressão e recepção. É uma obra musical que se investiu de significado maior. Um mistério e triunfo do espírito criador humano.

         Esse homem simples e vocacionado para a música, segundo Kurt Pahlen, sempre tivera um mote: “Na arte e no amor, devemos ser sempre, acima de tudo sinceros.”.  

         Talvez por isso, suas melodias entrem tão sinceramente dentro de nossos ouvidos e se acomodem tão definitivamente em nosso coração. 
                                 

                             (*)MASSIN, Jean e Brigitte. História da Música Ocidental. RJ: Editora Nova Fronteira, 1997. 

PS1: Sites comemorativos do bicentenário (em italiano) 

PS2: As árias de Verdi estão no youtube. Não perca o prelúdio de La Traviata:  http://www.youtube.com/watch?v=XZqoFQd_Cec  Visite também:  o coro Va pensiero (Nabucco), a Marcha triunfal (Aída) e as árias  La Donna è mobile (Rigoletto) e Libiamo ne´ lieti calici (La Traviata). 

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